Aventura na Namíbia
Postado no 27 de março de 2015 Deixe um comentário
Trajeto que atravessa o deserto do país dura 20 dias e proporciona paisagens em estado bruto
Michelle Glória – Especial para O GLOBO
Publicado em 26 de março de 2015 no jornal O Globo.
CIDADE DO CABO – Atravessar o deserto da Namíbia até o Victoria Falls National Park, no Zimbábue, a bordo de um caminhão, acampando ao longo do trajeto e dormindo, a cada noite, em um lugar diferente em profundo contato com a natureza da África austral. Durante 20 dias, embarcamos numa aventura daquelas que não se esquece.
O ponto de partida é a Cidade do Cabo, na África do Sul. Operadoras de viagem locais oferecem diferentes roteiros pelo sul do continente africano a bordo de um truck, que na verdade em nada se assemelha a um caminhão, mas, sim, a um ônibus adaptado com tração 4×4 e superconfortável.
Uma aventura com segurança e autenticidade, em que você observa os animais em seu habitat natural, a natureza em estado bruto.
Durante a viagem, para se sentir um pouco mochileiro, ajuda-se a preparar a comida, cortando os vegetais, carne etc. à moda do chefe-guia. Também lavamos os pratos, montamos e desmontamos a barraca todos os dias. Não foi tão moleza assim. Mas fizemos tudo isto a bordo do confortável truck. Além do que, as barracas também eram bem espaçosas para duas pessoas. Um luxo.
Eu diria que viajar num truck é aventurar-se em alto estilo. Não se negocia preço, confere horário de ônibus, procura restaurante etc. Só lhe é “exigido” sentar na poltrona e apreciar a esplêndida paisagem pela janela.
A odisseia começa na praça Greenmarket, no centro da Cidade do Cabo. Parte-se cedo. Subimos pela costa oeste desde a Cidade do Cabo, na África do Sul, até Walvis Bay, na Namíbia. São três dias até a primeira parada turística com paisagem de tirar o fôlego: o monumental cânion Fish River, o segundo maior da África, de clima semidesértico, já no território da Namíbia. As temperaturas da região oscilam entre 48°C de dia e 30°C à noite, no período de outubro a março; e entre 20°C e 0°C, respectivamente, de abril a setembro.
UM ESPETÁCULO EXÓTICO
Na manhã seguinte, depois do delicioso café preparado pelo guia, que ao mesmo tempo é chef, desmontamos acampamento, e seguimos viagem para uma das espetaculares obras da natureza: o deserto da Namíbia, com suas ondulações do mar de dunas e matizes da cor ocre ao bege claro. O ponto auge da viagem. Um esplendoroso e exótico espetáculo.
No dia seguinte, antes mesmo do alvorecer, o grupo sobe com lanternas até o topo da Duna 45, para ver o sol nascer na linha do horizonte. Presenciamos, então, a imagem de uma bola de fogo laranja-avermelhada, que se ergue no céu africano.
No sexto dia, cruzamos o Trópico de Capricórnio. Chegamos à bucólica cidade costeira de Walvis Bay e encontramos flamingos emoldurando o pôr do sol.
Depois, temos um dia livre, segundo a programação da agência, que nos oferece atividades opcionais como: saltar de paraquedas, andar de quadriciclo motorizado (quad biking), sand boarding, sobrevoo e pescaria, entre outras atividades. Mas o visitante também pode simplesmente relaxar à beira-mar. De Walvis Bay na Namíbia partimos para o interior da África, em direção à impressionante Cataratas Vitória, no Zimbábue.
BOTSWANA E ZIMBÁBUE: COM MEDO DE ENCONTRAR UM DOS BIG FIVE
Durante a travessia pela África Austral, em que passamos por quatro países, visitamos a tribo Himba, fizemos safáris em dois parques nacionais: não apenas o de Etosha, na Namíbia, como o de Chobe, em Botswana.
E foi aí, em Botswana, o ponto alto nessa segunda fase da nossa viagem: o inesquecível camping no Delta do Okavango, quando foi a vez de fazer o safári a pé.
Na África do Sul, tínhamos saltado de bungee jumping, mas o máximo da adrenalina da viagem foi mesmo esse safári a pé. Afinal, estávamos diante da expectativa de encontrar um ou algum dos Big Five — búfalo, elefante, leopardo, leão e rinoceronte — em plena selva africana.
No delta, acampamos sob árvores frondosas, dormindo no meio da savana africana. Passamos três dias e duas noites à margem do Rio Okavango. À noite, sentíamos certo medo de sair da barraca. E se encontrássemos um leão ou um bufálo?! Preferia esperar o amanhecer.
Ao mesmo tempo em que deseja chegar perto dos animais, naturalmente o viajante pensa no que vai fazer se isso acontecer. A recomendação dos guias, caso isso aconteça, é não correr, olhar para eles. Felizmente, não chegamos a tanto. O máximo da tensão foi quando avistamos um búfalo, a pouquíssimos metros, entre os arbustos.
O bicho pressentiu nossa presença. Eu e meus companheiros nos entreolhamos com apreensão. Mas ele correu para o outro lado. Nunca meu coração disparara tanto. Uma experiência singular e única. E que eu recomendo.
Adoramos todos os destaques do roteiro, exceto a visita à tribo Himba, na Namíbia, perto de Etosha, devido aos cliques das máquinas fotográficas, feitos sem a permissão dos moradores locais.
No décimo nono dia, por fim, nós alcançamos o Parque Nacional de Victoria Falls, no Zimbábue. Optamos por fazer um sobrevoo. Valeu muito ver a fumaça de água que sobe das cataratas. Lindíssimo visual, com imagens que ficam para sempre.
SERVIÇO
O pacote para tour de 20 dias sai da Cidade do Cabo, na África do Sul, e vai até as Victoria Falls National Park, no Zimbábue, atravessando o deserto da Namíbia. Para quem opta por fazer a viagem dormindo em barracas de camping, o valor do pacote é de US$ 1 mil.
Quem prefere se hospedar em pousadas todas as noites, durante a travessia, paga US$ 3.350. nomadtours.co.za
A Mulher e a Morte
Postado no 27 de julho de 2014 Deixe um comentário
“Olha-se no espelho e se odeia. Olha-se no espelho e gosta do que vê. No espelho ora se reconhece, ora sente estranhamento. Tem vontade de chorar. Sente a fúria do destino. O espelho reflete a mulher que para ele olha, mas reflete também o mundo e o outro, no qual ela se espelha, e que, por sua vez, espelha-se nela. Tudo vai se espelhando e e já não é possível saber quem é ela, quem sou eu e quem é você. O velho triste é hipnotizado pelo espelho do elevador, assim como a criança sardenta e como ela, que retoca o batom. Seria somente vaidade?
Ela não é a primeira, nem será a última, dela já nasceu outra, que mesmo pequena sabe que é mulher. É noite, faz frio, ela está sozinha deitada na cama. Pariu, sofreu, tem alma. Do que sabia Aristóteles? De poética e Filosofia? Ela aprendeu a ler, mas aquela escritora, um século atrás, foi impedida de entrar na biblioteca. A razão? Era mulher. Ainda é noite, escura, mas ela já pode votar. Mulheres escrevem livros sem ter de usar pseudônimos. Ela nasceu com direitos já conquistados. Estudou matemática, leu filósofos, prosadores e poetas, tirou boas notas, passou de ano, tem bacharelado, mestrado e doutorado. Casou-se, criou os filhos, divorciou-se e voltou a se casar. Trabalha, paga suas contas, mas gosta quando a convidam para jantar. Faz ginástica, regime e aplicações de Botox. No meio do caminho tinha uma pedra. É difícil ser mulher? É difícil ser mulher sem cintura fina e a juventude ao lado? Ela crava os olhos no espelho. A mocidade vai embora, a beleza vai embora, o vigor vai embora. Só quem não vai embora é a morte.
Mas sem a consciência da morte não existe vida, nem reflexo no espelho que garanta a ela estar viva, com todas as possibilidades que ali se espelham, transfiguram e produzem, fazendo com que o agora, o instante-já, seja a eternidade.
E com a morte, qual o destino da sua consciência? A total inconsciência? Essas concepções, essas crenças sobre ressurreição, reencarnação são meros artifícios cujo objetivo é nos tornar menos solitários, ou infelizes, ou temerosos. Na verdade, a morte é o começo e o fim de tudo basta olhar no espelho.”
Por Paula Parisot, escritora brasileira.
Revista O Globo, 27 de julho de 2014.
Meu Bairro
Postado no 28 de dezembro de 2013 4 Comentários
Emocionante voltar à Granja Guarani depois de cinco anos da minha pesquisa de mestrado, de 2006 a 2008, com adolescentes das comunidades do bairro.
Após dois anos fora do Brasil, perdi o contato com os adolescentes. O jornalista Cesar Rodrigues, ex-morador da Granja Guarani, me encontrou pela Internet e me contou das boas novas. A Associação dos Moradores e Amigos da Granja Guarani (AMAGG) cresceu e se fortaleceu, obtendo reconhecimento, em 2013, como associação de utilidade pública pelo Legislativo local. E me informou, também, que fui a pesquisadora pioneira, tendo sido realizadas outras pesquisas científicas, inclusive de universidade do exterior. Notícias que me deixaram muito contente, em saber dos avanços do bairro rumo à inclusão cidadã.
Minha relação com a Granja Guarani começou com a mudança da minha mãe, em 2003, do bairro Inhaúma, no Rio de Janeiro, para o bairro Comari, em Teresópolis, vizinho às comunidades populares da Granja Guarani.
Passava ali de carro, sempre olhava o pulsar da comunidade e pensava em um dia desenvolver um trabalho social com adolescentes. Fase de grandes mudanças e desafios na vida de um ser humano. A formação da identidade. A descoberta de si. O preâmbulo da vida adulta. Escolhas profissionais. Múltiplas possibilidades e caminhos a seguir. Inseguranças sobre o futuro.
Como fotógrafa, minha contribuição foi a partir do aparato da máquina fotográfica permitir que os adolescentes fotografassem si mesmos e o seu bairro – espaço de construção de subjetividades, de sentimentos de pertencimento e adequação-, desvelando aspectos positivos e também negativos da vida nas comunidades populares, no contexto da sociedade brasileira.
O cerne da pesquisa foi a exclusão simbólica de moradores de bairros populares, em razão do preconceito social, e seus reflexos na autoimagem e na autoestima dos adolescentes. O objetivo da pesquisa foi ressaltar os aspectos positivos da vida comunitária de modo a enfatizá-los para os próprios adolescentes participantes da pesquisa, para os moradores, tecendo, registrando a história visual, construindo o autorretrato do bairro. Apresentá-los para os não-moradores, para a sociedade local, de modo a desvelar a singularidade do bairro, afastando a névoa dos “pré-conceitos” – intrínsecos ao desconhecido.
Sinto-me à vontade para falar sobre esse tema “preconceito social”, por também já ter estado neste lugar, nessa posição de adolescente moradora de bairro excluído simbolicamente. Sou nascida e criada em Inhaúma, no subúrbio do Rio de Janeiro. Muito comum ouvir a palavra “suburbana” em tom depreciativo, até os dias atuais.
Posso dizer, na primeira pessoa da narrativa, que o preconceito fere a alma e, por consequência, a percepção de nós mesmos. E na adolescência, esta violência simbólica-psicológica tem um peso especial, porque é um momento delicado da vida. Precisamos ser confiantes, determinados, quase obstinados para superar os obstáculos e adversidades, principalmente, os adolescentes de camadas sociais desfavorecidas. É preciso muita autoconfiança. É preciso muita autoestima. Determinação. Obstinação. Superação.
Por isso, a escolha em desenvolver um trabalho de inclusão visual com adolescentes de bairros populares, em posição de desvantagem, material e simbólica, em relação aos adolescentes de camadas altas da sociedade brasileira. Uma forma de contribuir para enfatizar para eles mesmos os aspectos positivos de suas vidas, construindo e consolidando esse olhar positivo, que se materializa no suporte do papel fotográfico, nos blogs e redes sociais. Ao meu ver, fundamental para a autoestima dos adolescentes, para a autoimagem dos seus moradores. Fundamental para retirar o véu do preconceito e desconhecimento que separam os moradores de bairros populares e de bairros abastados, em prol de um mundo com respeito às diferenças.
Principalmente, para os protagonistas deste espaço social contarem as suas histórias a partir dos seus olhares.
E construir em seus imaginários sentimentos de mobilidade e inclusão social. Inclusão cidadã. De exercício de Cidadania.
Austrália
Postado no 11 de janeiro de 2012 Deixe um comentário
Vinte dias pela costa leste da Austrália de Melbourne a Cairns. Paradas de 2 a 3 dias em cada cidade. Corrido. Mas na medida para conhecer a beleza natural e sentir um pouco da atmosfera de cada cidade, de Melbourne, ao sul, até a Grande Barreira de Corais, em Cairns, ao norte da costa leste.
Os “Dozes Apóstolos” estão, sem dúvida, entre uma das maravilhas da Terra. Esculturas monumentais e únicas da natureza. Apesar de distar da famosa rota da Golden Coast, vale voar até lá, para quem chega na Austrália por Sidney. Três dias em Melbourne são suficientes. Um dia para fazer o tour da “Gran Ocean Road” e “Doze apóstolos”. Outro dia para ver os pinguins da ilha Phillip. E mais um dia para perambular por Melbourne.
Para subir a costa leste, sugiro voar de Melbourne até Sidney ou Byron Bay. E de lá, comprar um bilhete de ônibus até Cairns. O bilhete permite parar durante o trajeto e permanecer dias na cidade. É só programar as cidades de parada. O preço do trecho Sidney-Cairns é o mesmo, independentemente do número de paradas.
Meus lugares favoritos na costa leste foram: 1) Byron Bay, por suas praias de águas cristalinas e extensa facha de areia branca, além do visual cinematográfico do farol, onde se pode avistar golfinhos, e o clima Woodstock de Byron, lá se respira o ar do movimento hippie dos anos 70; 2) as ilhas Whitsundays, a minha favorita, imperdível (!), passeio de 2 dias com pernoite no barco, a cidade base é Arlie Bay Beach; 3) a Grande Barreira de Corais de Cairns, o mergulho de cilindro é obrigatório.
Para se despedir da Austrália, obrigatória a visita à magnificente “Opera House” em Sidney, o cartão postal da Austrália.
Quem leva: http://www.backpackerworldtravel.com
De avião: http://www.jetstar.com
De ônibus: http://www.greyhound.com

Doze Apóstolos

Ilha Fraser

Koala

Ilha Whitsunday

Cairns, Grande Barreira de Corais
Casamento sem fronteiras
Postado no 12 de dezembro de 2011 Deixe um comentário

Estava descendo a rua Gautama, em Ubud, ilha de Bali, Indonésia, quando alguém diz: “Tudo bem?”. Olhei para trás, surpresa. “Como assim você sabe que eu sou brasileira!?“. No Brasil de todas as cores, formas e matizes, multiétnico, é difícil reconhecermos um brasileiro pela aparência. “Não sei… Reconheço brasileiro pelo cheiro (risos)… Acho que é o seu jeito… de andar, de olhar”, disse Cleise. “Nossa! Estou impressionada! Você é boa nisto. Eu te olhei, mas pensei que fosse estrangeira, espanhola, italiana… Sei lá. Não imaginei que fosse brasileira…“.
Nossa empatia foi imediata. Muito além das raízes nacionais, identificamo-nos pela história de vida, valores, visão de mundo. O mesmo espírito viajante. Cleise começou a rodar o mundo aos 20 anos. Morou 2 anos em Barcelona, até embarcar num navio e conhecer Hero, seu marido indonésio, nascido na ilha de Java. O que mudou o curso de sua vida.
“Minha mãe sempre me perguntava quando eu ía parar, quando eu ía construir alguma coisa… Eu sempre fui aquela que viajava e deixava os namorados. Nunca me prendi. Até conhecer o Hero… e nos apaixonarmos. Primeiros, fomos amigos. A paixão aconteceu depois. A melhor coisa é ser amigo, primeiro. Sempre falei tudo. Hero era meu confidente. Eu conversa com Hero sobre os meu ex-relacionamentos. Sobre tudo. Nunca escondi nada. Chorava. Mostrava toda a minha loucura quando ficava mal, me sentia sozinha. Ele sempre me apoiou. A melhor coisa é não esconder nada, por mais louco que possa parecer. A melhor coisa é ser quem você é. Eu sempre digo: seja quem você é. Hero, também, tinha um relacionamento. Conversávamos sobre as questões dele. Ficávamos horas conversando. Perdia as horas…
Quando meu apaixonei pelo Hero… antes de começar qualquer coisa, terminei meu relacionamento anterior. Hero fez o mesmo. Trabalhamos juntos 6 meses no navio. Éramos fotógrafos do cruzeiro. Nós nos apaixonamos. Em 3 meses, começamos a namorar. Era muito bom. Quando o navio ancorava, saímos juntos para passear. O cruzeiro fazia o percurso pela Grécia, Itália, Croácia… Acho que isto favoreceu também nosso amor. Estávamos sempre juntos. E paisagens lindas…
Nossa ideia era tentar uma vida juntos no Brasil. Desembarquei em agosto de 2010 no Brasil. Hero continuou embarcado. Nossas últimas semanas juntos foram tão intensas. Não sei… quando você sabe que irá deixar alguém… você fica mais próximo. Nossa!… Quando cheguei no Brasil, fiquei perdidinha… sem saber o que fazer. Gastei uma fortuna com telefonemas. Consegui junto à companhia a vaga para embarcar no mesmo navio de Hero. Mas Hero teve de desembarcar. Nossos planos foram por água abaixo. Gastando dinheiro com ligações, fiquei no Brasil só um mês e maio, decidi vir logo para a Indonésia.
Lembro de uma vez, Hero me ligou chorando, era 4 da madrugada. “I miss you so much. Can I ask something? Would you like to marry me someday?…” Coisa de apaixonado… (sorrisos)… Ele não sabia o que fazer… “So cute…” Ninguém nunca, nenhum namorado, tinha falado isto antes para mim… Tão doce… (risos)… Mas ele não vai contar isto para você. Ele é muito racional para falar isto para os amigos, para as pessoas.
Cheguei aqui e nos casamos em 20 dias. Não sabia como ía contar isto para minha mãe. Um dia, Hero me fez ligar para ela e contar. Nossa… Foi difícil para meus pais aceitarem no início. Hoje, depois de 1 ano, eles veem que eu estou feliz, que encontrei o que buscava, eles aceitam melhor. Quando você não esconde nada de ninguém, quando é você mesma, sua vida fica uma maravilha.”
Em um ano de Indonésia, sem dinheiro, Hero e Cleise conseguiram levantar recursos com fotografia de casamento, propaganda e montaram a Asu Art Attack, um coletivo de três artistas: Cleise Vidal, brasileira, desenhista gráfica, fotógrafa, pintora, Hero Aditya, indonésio, fotógrafo, Fajar Kadafi, indonésio, desenhista, pintor.
Identifiquei-me com a temática do trabalho de Cleise. Suas questões existenciais. A paixão e o amor que a motivam.
“A mistura cultural sempre esteve na minha família. Sou de Foz do Iguaçu, da fronteira. Minha mãe é paraguaia. Meu pai brasileiro, de mãe francesa. Não entendi no início quando ela não aceitou meu casamento. Ela fez o mesmo?!… Casou-se com um brasileiro. Acho que o ponto é por ser tão longe… Indonésia, do outro lado do mundo. Mas agora eles estão aceitando, vendo minha vida aqui. Estou feliz. Era o que eu procurava para mim. Aqui tenho espaço para me expressar como artista. Encontrei o meu lugar.
Os outros artistas de Ubud, logo que chegamos aqui, nos apoiaram muito. Nos deram espaço para expor em suas galerias. Nos convidavam para jantar, comer com eles. Compartilhavam tudo. Eu queria poder expressar a minha arte, os meus sentimentos. Asu Art Attack aconteceu naturalmente. Foi um encontro de ideias, sentimentos… de vidas… Nossos trabalhos dialogam. Muito bom construir algo com alguém. Seguir a mesma direção. Um só caminho. Acho que assim dá certo. Estou feliz.
Existem as diferenças culturais. Às vezes, é difícil. Quando cheguei aqui, em Java, como brasileira, vesti um short, uma camiseta, Hero me perguntou: “Você vai sair assim?!”. O lugar onde mora a família de Hero, em Surabaya [cidade na ilha de Java], é mulçumana tradicional. Eu respeitei. Troquei de roupa. Mas sou brasileira. Difícil se adaptar a estes costumes. Decidimos mudar para Bali. Aqui é turístico e hindu. Posso me vestir com camiseta, com ombros de fora.
Outro ponto é o nome. Na cultura de Hero, não usam sobrenome. Os filhos não têm o sobrenome da família. São apenas nomes. Dois ou três nomes. Eu quero ter filhos e quero que meus filhos tenham o meu sobrenome. Estranho meus filhos não terem o meu nome?!… São meus filhos! Eu e Hero vamos usar o último nome de Hero como sobrenome.
Uma curiosidade sobre nossa cultura e o papel da mulher brasileira na família é a questão do sobrenome, que merece estudos. Outro dia conversando com uma inglesa que namora um português, descobri que na Inglaterra, a mulher quando casa tira, completamente, o sobrenome e coloca o do marido. É somente um sobrenome. Já tinha estranhado o fato, preenchendo formulários de imigração. “Por que não há espaço para o meu segundo sobrenome?”, me perguntava. A inglesa me esclareceu. “Meu namorado português me diz quando a gente se casar, eu tenho de manter o meu sobrenome! Eu digo para ele que na Inglaterra não é assim. Ele diz: ‘Não! Você tem de manter o sobrenome da sua família!’. Não sei… Estranho...”.
Conversando sobre isto com uma australiana que já se casou três vezes, e trocou de sobrenome três vezes, disse que gostou da ideia. “Quando eu me casei pela primeira vez, perguntei o porquê de eu ter de tirar meu sobrenome, me disseram porque era assim. Não gostei. Mas fiz. Eu me senti perdendo a minha identidade. Uma boa ideia manter o sobrenome. Gostei!“.
Isto me fez pensar no papel forte da mãe na família brasileira. Alguns estrangeiros dizem que adoram a mulher brasileira. Somos carinhosas, bonitas, mas também de personalidade forte. Dizem gostarem desse jeito brasileiro, latino-americano, apesar de, às vezes, ser difícil de lidar (risos). Somos autênticas, espontâneas. Passionais. “Deve ser porque mantemos o sobrenome“, brinquei com a inglesa e a australiana (risos). Não perdemos nossa identidade. Herança cultural de Portugal? Só conjecturas. Diferenças interculturais para serem estudadas, investigadas, comparadas.
No encontro com o outro, estrangeiro, acabamos por descobrir mais de nós mesmos. Longe de casa, no exterior, mas perto de casa, no interior.
“A língua às vezes também dificulta nossa comunicação. Quero expressar meus sentimentos e não encontro as palavras em inglês. Não sei… às vezes só na sua língua materna para conseguir expressar certos sentimentos. Inglês também não é a língua nativa de Hero. Ele fala javanês, sua língua materna, e bahasa, a língua oficial da Indonésia. Com amor, só estando juntos, um do lado do outro, conseguimos nos compreender. Vou ensinar português para os meus filhos. Quero que eles possam falar com os avós no Brasil.
Estou lendo um livro sobre a história de um australiano que se apaixonou por uma brasileira, se casou e foi morar no Brasil. Muito interessante. O livro fala sobre os choques culturais, as dificuldades de morar em outro país, mergulhar em outra cultura, os ajustes culturais necessários a serem feitos no casamento. É preciso um real comprometimento para a relação dar certo. Isto é verdadeiro amor. Uma amiga australiana que se casou com um indonésio me emprestou. Vou te emprestar. É muito interessante. Você deveria ler.”
Para quem estiver interessado na temática, o título do livro é “Love Across Latitudes: a workbook on cross-cultural marriage“, por Janet Fraser Smith, editora AWM – Arab World Ministries, Reino Unido – UK.
“Difíceis as diferenças culturais, mas estou feliz. Com amor, entendimento, comprometimento, caminhando juntos, olhando para a mesma direção, dá certo. Isto é amor verdadeiro. Real comprometimento com o outro. Hero é meu companheiro. Dividimos tudo. Contamos tudo um para o outro. A melhor coisa é ser amigo. Eu digo isto para todo mundo: case com seu melhor amigo!! Dá certo! Amor sem amizade não é amor…”. (Conselhos de Cleise para mim…)

“Este desenho… sou eu. Sempre viajando, não párava.
Sou eu voando, me transformando… carregando a casa, agregando novas bagagens, novas experiências… na minha casa.
A cidade aqui é Curitiba onde eu vivia antes. A cada viagem, você acrescenta novas bagagens, novas experiências, mas você carrega a casa com você… Seu passado, sua história… sempre com você.
Sua casa, sua história… é você.
Mas você acrescenta novas experiências, novas bagagens… Você se transforma.”

“Wishes… Estamos sempre cheios de desejos. Às vezes, é o que nos motiva a continuar. Às vezes é bom, às vezes é ruim.
O desejo me trouxe aqui, para Indonésia. Não estava procurando um amor. Aconteceu. Mas era tudo o que eu queria para a minha vida. Hero é meu amigo, parceiro. Compreende minha arte. Posso me expressar, como artista, os meus sentimentos. Era um desejo…
Eu agora quero ter filhos. Adoro crianças. São tão puras, inocentes, divertidas. ”
Eu, após esta longa jornada e transformação espiritual, que não irá findar até meu último suspirar, estamos sempre em metamorfose, não sinto mais desejo pela “falta de”, não há mais carência, não há mais demandas. Tão somente uma vontade de auto-realização, de me realizar como pessoa, o meu “eu”, a minha “alma” como ser humano em sua totalidade, feminina e masculina, ying e yang.

“Respeito é tudo. As palavras têm muito poder. Machucam. Fiz o desenho sem a boca, porque às vezes respeito é não falar nada. Quando era adolescente, na escola faziam piada com paraguaios, diziam que eu era ‘paraguaia’, falsificada, pobre. Diziam ‘paraguaia’ em tom de ofensa. Faziam brincadeiras de mau gosto.
Hoje não tenho vergonha de dizer que sou paraguaia. Por que ter vergonha?! São as minhas raízes. Quando você amplia a consciência, você enxerga que estas coisas não têm nada a ver. Hoje tenho orgulho de dizer que sou paraguaia. São as minhas raizes. As raízes é você, quem você é. Eu nunca vou negar minhas raízes. Sou eu.”
A história de Cleise lembrou-me quando morava em Inhaúma e também omitia na escola meu endereço. Os outros coleguinhas faziam piadas, chacotas. Às vezes, dizia que morava em Del Castilho. Era melhor… Melhor status do que Inhaúma, a última linha do metrô, à época. Na hierarquia do status da linha do metrô, onde o bom é morar do lado de lá da linha, quanto mais perto, melhor. Na juventude, o endereço, às vezes, foi também um problema para os paqueras, namorados.
Na sociedade de consumo, onde o bairro também se tornou mercadoria de prestígio, o endereço te rotula como ser humano de menos valia. Não estou dizendo que não é bom morar perto da praia. Claro que é. Se pudesse, moraria na Vieira Souto, com uma bela vista para o mar. A questão é tão somente o significado simbólico que o endereço ganha em prejuízo do humano.
Complicado falar sobre este tema: “pré-conceito”. Às vezes, parece que estamos generalizando. Não é este o ponto. Para além da superficialidade dos estereótipos, o que existem são pessoas. Somos todos iguais. Humanos.

“Às vezes, a gente dá desculpas para nós mesmos para justificar o que deu errado, em vez de assumir nossos erros, defeitos. Eu era assim… Meu conselho, não dê desculpas. Enxergue. Assuma os próprios erros. Não aponte o dedo. Aprenda e siga em frente. Isto é vida…”
O mundo não é cruel. Nós não somos perfeitos. Cada dor, cada malentendido, é uma benção para nosso crescimento pessoal, para nossa jornada espiritual. Uma possibilidade de vermos nossas sombras. Enquanto não enxergarmos nossas próprias sombras, o mundo será uma projeção de nós mesmos, de nossos fantasmas, o mundo será cruel. Viemos aqui para evoluirmos espiritualmente, nos tornarmos seres humanos na aceitação de nossas imperfeições e fortalezas. Não só as dores, mas as alegrias fazem parte desta jornada. Na aventura espiritual, o caminho sugerido é: enxergue suas sombras, aceite suas imperfeições, aprenda com os erros, não páre, evolua, siga – mergulhe neste mistério maravilhoso que é viver – celebre, festeje!
Somos não-perfeitos. Somos frágeis e somos fortes. Somos ambos. Humanos.

“Nunca esconda nada. Seja sempre você mesma. Mostre a realidade. Não seja quem você não é. Assim a vida se torna uma maravilha, uma paz…“
Enquanto vivermos nas projeções de nós mesmos, sombras, não descobrimos quem somos, não vivemos nossa verdade. Olhe para dentro. Descubra quem você é e viva a verdade. A verdade do seu e único “Ser”.

“Todos sempre diziam que eu nunca parava, nada me prendia… até encontrar Hero. Estou ‘presa’ pelo amor (risos). Só o amor me prende. Este desenho sou eu, amarrada pelo coração (risos). Na verdade, livre! Estou feliz. “
Compartilho do sentimento de Cleise. Alguns amigos dizem o mesmo para mim. O que me prende? Só o amor para me “prender” (risos). Na verdade, me libertar. Transcender. Amor é liberdade. Quando você encontra um amor (parceiro) que realmente te entende, te enxerga, gosta de você pelo o que você é, e não pelas projeções dele em você, aí sua alma encontra um céu azul, infinito azul do mar… Liberdade!






Campo base do Everest
Postado no 8 de dezembro de 2011 Deixe um comentário
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Campo base do Everest
Postado no 8 de dezembro de 2011 Deixe um comentário
Everest: Aventura para Amadores
Michelle Glória – Especial para O GLOBO
Matéria publicada no jornal O Globo de 8 de dezembro de 2011. Chegar perto do topo do mundo é um sonho possível. E uma experiência de vida inesquecível. Ainda que seja uma dura jornada que pode demorar mais de duas semanas, os aventureiros de hoje dispõem de comodidades impensáveis em 1953, quando o neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay conquistaram o Everest. Atualmente, com empresas que cuidam de toda a logística, está mais fácil alcançar o campo base, onde montanhistas profissionais passam cerca de dois meses se aclimatando para tentar chegar até o cume, a 8.848 metros de altitude. As melhores épocas para uma viagem como essa são de março a maio, na primavera do Hemisfério Norte, e de setembro a dezembro, no outono. Há agências que levam milhares de pessoas por ano ao Everest e organizam tudo, desde a reserva de hotel em Katmandu, a compra da passagem aérea até Lukla – onde começa, de fato, a expedição turística – e o pagamento de taxas governamentais até o transporte das bagagens e o preparo da comida durante os dias na trilha. Aos viajantes, basta caminhar muito. Para se conquistar parte da Sagarmatha (deusa do céu ou testa do céu), como chamam os nepaleses, ou da Chomolungma (divina mãe do Universo), como a montanha é conhecida pelos tibetanos, é preciso ter disposição e um bom preparo físico. A subida até o acampamento base, a 5.364 metros de altitude, e a descida são feitas durante 16 dias de Aventura temperada pelo contato com a população, seus trajes, suas comidas e bebidas típicas, e a observação de cenários naturais fantásticos, celestiais. Para explorar a paisagem o melhor é pegar o caminho mais longo, que também é o mais bonito, passando pelos Lagos Gokyo. Foi o que fizemos.
Em cinco dias, 4.470 metros de altitude e muitos picos nevados
Katmandu, a capital do Nepal, a 1.300 metros de altitude, é a porta de entrada para a Aventura na montanha. Os serviços das agências que vendem pacotes para o Everest, como a Himalayan Glacier Trekking, geralmente começam aqui. Duas noites na cidade é o tempo ideal para visitor os pontos turísticos do Vale de Katmandu e finalizar os preparativos para o trekking, verificando todo o equipamento com o guia. Conhecer a Durbar Square e fazer um delicioso passeio de riquixá pelas ruas da área turística de Thamel são programas imperdíveis. Em Durbar Square, fazem sucesso os entalhes ao redor do templo Jagannath que mostram as posições do Kama Sutra. E das varandas da torre Basantapur, observa-se do alto o dia a dia nas ruas de Katmandu.

Estupas.
No Vale de Katmandu, ficam as estupas Swayambhunath e Bouddhanath, essa a maior do Nepal. Quem chega ao cair da tarde ao templo budista, observa parte da agitação dos turistas que vieram durante o dia e a atmosfera sagrada da noite, quando dezenas de peregrinos caminham em volta do monumento religioso, fazendo suas orações e prostrações – ato de libertação da negatividade da mente e de reverência a Buda. Depois de turistar por Katmandu, havia chegado a hora de partir para a montanha. No primeiro dia de caminhada, acordei com um frio na barriga. A adrenalina começou no aeroporto, ao embarcar num avião pequeno. Em 40 minutos de voo, chegamos a Lukla, povoado a 2.840 metros de altitude, ponto de partida do trekking. O visual deslumbrante dos picos nevados do Himalaia cortando as nuvens faz esquecer o medo. Desembarquei eufórica. O primeiro dia é leve, com três horas de caminhada até o vilarejo Phakding, a 2.610 metros, onde pernoitamos. Chegamos por volta de meio-dia e descansamos, preparando o corpo para seguir a altitudes mais elevadas. Mais dois dias e chegamos a Namche. A 3.440 metros acima do nível do mar, é o maior vilarejo do trajeto, com cybercafés, sinucas e lojas de souvenirs. Passamos dois noites para aclimatar o corpo e evitar o chamado “mal da montanha”. É preciso subir devagar, beber muita água, fazer uma boa alimentação e respeitar os sinais. Se os sintomas do “mal da montanha” aparecem (dor de cabeça, náusea, vômito, perda de apetite), a recomendação é descer.

Partindo de Namche, a jornada é ingreme. Vencida a colina, a trilha plana serpenteia pela encosta de um vale – sem muito esforço, puro deleite. Dia ensolarado, as pernas andavam sozinhas, inebriadas pelo cenário dos sonhos: picos nevados ao longo da trilha emoldurando a paisagem. No trajeto, uma estupa homenageia o Sherpa Tenzing Norgay e todos os sherpas do Everest, os verdadeiros tigres da neve. Com céu limpo, avistamos no fim do vale o pico da montanha. Dormimos na bucólica vila Dole, a 4.110 metros, de ambiente rustic e clima rural. Há poucas pessoas e alojamentos, começamos a entrar na solitude da montanha. Muitos turistas optam pelo percurso via Tengboche, direto ao acampamento base do Everest. Fomos pela trilha via Lagos Gokyo. É mais longa, mas o visual compensa. Na manhã seguinte, caminhada leve de três horas até Maccherma, a 4.470 metros acima do nível do mar. Outro dia prazeroso, com uma subida suave roadeada por montanhas. Os picos de neve eterna nos acompanham o tempo todo, para deleite visual. No quinto dia de caminhada, o corpo dá sinais de fadiga. Em Maccherma, um posto médico presta o primeiro atendimento às pessoas acometidas do “mal de montanha”. Mesmo sem os sintomas, fui até lá para medir o percentual de oxigênio no sangue: 90%. Segundo a voluntária que me atendeu, uma ótima taxa para 4.470 metros de altitude. Senti-me contente e cheia de coragem. O cansaço havia sumido.
Glaciar e iaques em paisagem surrealista

No sexto dia estávamos prontos para avançar 400 metros de altitude, entrando cada vez mais nas terras remotas do Himalaia, o que aumentava o nível de adrenalina. A partir deste ponto, o resgate de helicóptero torna-se mais difícil – as condições climáticas a cinco mil metros nem sempre permitem o acesso da aeronave. Apesar da leve tensão, o dia revelou-se uma grata surpresa, com uma caminhada aprazível margeada pelo rio Dudh Koshi. No fim da jornada, um presente: o vale dos Lagos Gokyo. O visual mágico de suas águas plácidas naquele profundo silêncio da montanha é de tocar a alma.

Passamos dois dias às margens do terceiro Lago Gokyo, a 4.740 metros. Os mais entusiasmados também aproveitam para subir o pico Gokyo, a 5.360 metros. O cenário é belíssimo. Uma dica: vá à margem oposta do lago. A trilha margeia o sopé do pico Gokyo. Com sorte, é possível apreciar iaques selvagens – animais da família do touro, com grossa pelagem. Não são dóceis e podem ser agressivos. Por isso, não se deve chegar muito perto deles. Já estávamos no oitavo dia de nossa expedição e o espetacular glaciar Ngozumba dominava a paisagem. Cruzar o glaciar foi como estar no cenário desértico das pinturas de Salvador Dali. Passaria o dia inteiro ali contemplando aquela paisagem quase surrealista – um convite à viagem interior.

No dia seguinte saímos bem cedo de Thangnag, a 4.700 metros, para atravessar sem pressa Cho La Pass, a 5.368 metros. É o trecho mais técnico do trekking, com uma caminhada íngreme sobre a neve, que dificulta a passagem. Para uma subida segura, o ideal é usar bastões e crampons – agarras sob o solado das botas, como ferraduras, para os pés se fixarem na neve. Muitos turistas optam pela trilha via Tengboche principalmente para evitar este trecho. Meu conselho é fazê-lo com calma, concentrado em cada passo. Sem muita experiência em neve, tive a sensação de escorregar duas vezes. Mas foi só o susto. Confesso que cheguei lá em cima com a adrenalina a mil. E comemorei muito.
Missão cumprida com muita simpatia
Dois dias de caminhada e chegamos a Gorakshep, a 5.240 metros de altitude- último refúgio antes do acampamento base do Everest. A expectativa aumentava e o coração palpitava. O trecho final foi leve, com o majestoso glaciar Khumbu a nos acompanhar como um gigante adormecido. De longe já avistávamos o campo base: pontinhos amarelos surgiam no cenário e iam se tornando mais nítidos à medida que avançávamos. Eram as barracas do acampamento. A emoção aumentava à medida que chegávamos mais perto do coração da montanha. Há uma frase célebre de George Mallory, quando lhe perguntaram “Por que subir o Everest?”. Sua resposta: “Porque ele está lá”. O coração dispara ao alcançarmos o acampamento base, a 5.364 metros. Chegar “quase lá” foi o suprassumo da realização pessoal, um momento único para guardar no baú de memórias.


Na volta do acampamento base, encontrei dois russos que estiveram no cume. Quando assisti ao vídeo da conquista, com o infinito mar de montanhas e o céu azulado do topo do Everest, imaginei a adrenalina na reta final de ataque ao cume. Beber da aventura saciou o meu desejo. Escalar o Everest é um desafio para poucos, para tigres. Antes de descer, passamos pelo último ponto alto do trekking: o pico Kala Patthar, a 5.550 metros. Nevava ao amanhecer, o que nos impediu de subir e apreciar o visual do alto. Mas adorei ver os flocos de neve caírem, tudo ficar branquinho, envolvendo a montanha em clima de mistério. Nos próximos quatro dias seguimos descendo, via Tengboche, celebrando a conquista com saudades da aventura. Abaixo dos quatro mil metros, a vida volta a pulsar. Crianças seguem para a escola. E monges, para os monastérios budistas. Pastores conduzem seus pequenos rebanhos de iaques. Passamos novamente por Namche, agora em dia de feira. Lá vendem de tudo, de panelas a iguarias. Pudemos saborear mais um pouco da vida do Himalaia. Para fechar com chave de ouro, uma simpática senhora me cumprimentou: “Namaste”. Para eles significa um ato de humildade em reverência a outro ser humano, que quer dizer: “eu reconheço e respeito o Deus que existe em você”. Senti-me abençoada. Namaste para vocês também.
Serviços
Classificação do trekking: pesado. O que levar: mochila de 50 L e capa filtro solar, boné e óculos de neve roupas térmicas (segunda pele) casaco fleece casaco impermeável (anorak) camisas e calças de tecido respirável 2 pares de luvas gorro e balaclava 3 a 4 pares de meias botas impermeável e resistente a baixas temperaturas máquina fotográfica e baterias extras lenços umedecidos para bebê (Às vezes, está tão frio e a água morna, que o banho é a base de lenços umedecidos. Banho de água quente é pago à parte nos alojamentos, de 3 a 7 dólares) Nota: Saco de dormir, jaqueta, próprios para extremas temperaturas, bastões e crampons são fornecidos pela agência de turismo. Quem leva: www.himalayanglacier.com Quando ir: duas temporadas por ano, de fevereiro a abril, de setembro a novembro. Quanto custa: 1600 dólares. Resgate de helicóptero: 1 hora de voo em torno de 2.500 dólares. www.fishtailair.com, www.airdynasty.com
Ubud, Bali
Postado no 5 de dezembro de 2011 Deixe um comentário

Dança balinesa.
Onde ficar: Darta Homestay, rua Gautama, Ubud, Bali, Indonésia.