Safári na Tanzânia
Cheguei no Backpacker em Arusha, na Tanzânia, num domingo. Tudo estava fechado na cidade.
O Backpacker, em plena Copa do Mundo, estava vazio. Claro!
Todos os mochileiros estavam na África do Sul.
“Será difícil marcar um safári para amanhã”, conversei comigo mesma.
Eu tinha somente dois dias livres antes de subir o Kilimanjaro, para fazer um safári.
Para a minha sorte, cinco minutos depois de chegar no albergue, na recepção, encontrei Marjolein, 24 anos, da Holanda – outra aventureira romântica! (risos)
Marjolein também dispunha de dois dias para fazer safári e estava procurando alguém para formar um grupo e dividir os custos.
Eu chamo este encontro de sincronicidade.
Nós duas num backpacker vazio, em plena Copa do Mundo, dispondo dos mesmos dias livres, querendo fazer a mesma coisa. Encontramo-nos como num passe de mágica.
Estes encontros fortuitos são os melhores momentos de uma viagem independente. A causalidade do destino é algo mágico, inexplicável e muito prazeroso. É como se existisse algo intangível guiando nossos passos e mexendo os pauzinhos para que pessoas afins se encontrem neste Planeta.
Para mim, que estou numa fase mística na minha vida, adoro estes encontros casuais e cheios de simbolismo.
Era por volta de 14 hs da tarde, eu e Marjolein falamos com um rapaz do albergue, que trabalha como agente de turismo, para ele nos encaixar em algum safári no dia seguinte. Ele explicou que não seria fácil porque era domingo. Explicamos que não poderíamos perder a segunda-feira sem fazer nada, tínhamos exatos 2 dias em Arusha, depois teríamos de partir.
Os safáris na Tanzânia são feitos, comumente, em veículos 4×4, para grupo de 4 pessoas. Poderíamos fazer só nós duas, mas teríamos de pagar o preço full para 4 pessoas. De vez em quando, mochileiros até fazem extravagâncias. Mas se feitas, constantemente, quebra o orçamento de viagem.
Para quem pretende viajar por um longo tempo, é preciso negociar e buscar o menor custo. Negociando sempre um preço justo para ambas as partes.
No início da viagem, não estava negociando os preços, pois, na minha visão, pagar um pouco mais é uma forma de distribuir renda. Para mim, é difícil estar na África, um continente que foi tão expropriado de suas riquezas, e pechinchar…
Muitas vezes sei que estou pagando acima do preço normal. Sinto-me como uma turista estrangeira em Copacabana no Rio de Janeiro. É difícil regatear, movida por um sentimento de compaixão, com pessoas numa condição desfavorecida. Só que há uma hora que você cansa de ser vista e tratada como uma turista. Comecei a negociar os preços.
Saímos do albergue com a promessa do rapaz da recepção de que iria encontrar um grupo para nós. Um pouco antes de sair, já nas portas do albergue, a recepcionista me perguntou se eu não preferiria outra operadora mais barata. Eu disse sim e perguntei-lhe o nome da operadora. Ela foi evasiva. Não respondeu. Saímos. Demos alguns passos na rua. A poucos metros do Backpacker, um jeep nos abordou, perguntando-nos se estávamos querendo fazer safári em Ngorongoro. Ele foi enviado pela recepcionista – com certeza. Tentamos negociar o preço para duas pessoas. Mas para a Área de Conservação Ngorongoro somente preço full. Metade do preço, somente para o Parque Nacional Arusha. Com o orçamento apertado, fechamos o safári no Parque Nacional Arusha. Avisamos o motorista do jeep que, se ele conseguisse mais 2 pessoas, iríamos para Ngorongoro.
Voltamos para o Backpacker e o rapaz do albergue falou que tínhamos fechado com uma excelente operadora. A recepcionista olhou a cena sem falar nada. À noite, enquanto jantávamos, um homem nos abordou no Backpacker falando que havia sido enviado pelo motorista do jeep, que comentou que preferíamos fazer safári em Ngorongoro. Disse que tinha um grupo para Ngorongoro e que poderíamos fechar o safári com ele, pois o motorista do jeep estava de acordo. Achamos estranho. “Por que será que o motorista do jeep abriu mão do passeio? de ganhar dinheiro?… Devem ter algum acordo”, comentamos. Bom, fechamos o safári em Ngorongoro.
Na manhã seguinte, dois jeeps foram nos buscar na porta do Backpacker. O homem do jantar foi esperto e chegou cedo para nos apanhar. O outro jeep chegou depois, quando nos telefonou, já estávamos longe. Aí nos demos conta que entramos nas estatísticas do Lonely Planet. O guia alerta para tomar cuidado com as empresas que oferecem safári nas ruas, porque os jeeps costumam ser velhos, quebram, e o combustível não é suficiente.
Foi desagradável a sensação de ter sido enganada, tanto por nós como pelo motorista do outro jeep. Depois nos demos conta que o motorista do jeep, que nos abordou na rua, também passou a perna no rapaz do albergue, com quem falamos primeiro. Enfim, foi uma cadeia… Luta pela sobrevivência.
Como não poderia deixar de ser, seguindo as estatísticas do Lonely Planet, o jeep quebrou…! (risos).
Segundo o motorista, isso faz parte da aventura.
É a “real African experience”, explicou.
What?!, perguntamos para nós mesmas.
No final, o saldo foi positivo para nós duas. Fizemos safári onde queríamos:
Parque Nacional Lake Manyara e Área de Conservação Ngorongoro, por metade do preço.
Imperdíveis!!
A riqueza da vida animal e a paisagem belíssima!
E, claro, a aventura inesquecível!! Sem adrenalina, não há graça 🙂
Onde ficar: http://www.arushabackpackers.co.tz
Quem leva: http://www.zaratours.com, http://www.leopard-tours.com
De avião: