Calorosa recepção das crianças de Langa Township
Eu e quatros amigos, a guia de turismo, brasileira, Cíntia César, os espanhóis, Carles Solis, fotógrafo, Javier Bandoli, jornalista, e Esteban, outro viajante backpacker, que está na estrada há 2 anos, fomos conhecer de perto um pouco a realidade das townships de Cape Town. Nossos anfitriões foram Mônica e Martin, moradores de Khayelitsha, a segunda maior township da África do Sul, depois de Soweto. Mônica trabalhava no serviço de limpeza de uma escola de inglês. Martin, seu irmão, é taxista nas townships.
Martin, Mônica e suas filhas adolescentes, Sinethemba (que significa “esperança” em Xhosa) e Asanda (que significa “ainda crescendo” em Xhosa), foram nos buscar no centro de Cape Town. Saímos às 8 h da manhã em direção às townships.
Martin, embora taxista, perdeu-se várias vezes no centro de Cape Town. Logo percebemos que ele não circula pela região oceânica da cidade.
Diversamente das favelas cariocas, que têm suas origens no êxodo rural, as townships foram criadas durante o apartheid social, para separar os negros dos brancos. Afastadas do centro da cidade, foram os locais destinados à moradia dos negros.
Desde o fim do regime de apartheid social em 1994, não existem impedimentos legais cerceando o direito de ir e vir dos negros. Hoje, a barreira (visível) que os segrega é a desigualdade social, embora ainda se perceba tensão racial (invisível) nas ruas da Cidade do Cabo.
As condições precárias de moradia, infra-estrutura, não abalam a alegria de viver e amorosidade dessas pessoas. Já na saída, dentro do carro, Sinethemba, a quem eu preferi chamar Hope, “esperança” (impossível pronunciar seu nome em Xhosa), foi logo puxando assunto comigo, ensinando-me algumas palavras em Xhosa, com uma satisfação incontestável.
A primeira parada do carro, numa praça em Langa Township, foi emocionante. Hope pegou minhas mãos, convidando-me a brincar, levou-me até a gangorra. Adorei. Voltei a ser criança. Sendo mais pesada, diverti-me deixando Hope congelada no ar, para desespero dela (risos). Ela dava muitos gritos (risos).
Mudamos de brinquedo. Hope me levou até uma roda giratória, repleta de crianças. Sentei no banco e começamos a girar. O brinquedo pegou velocidade e, como não tenho mais cinco anos de idade, escorreguei. Girei algumas voltas pendurada de cabeça para baixo, segurando-me só com as pernas. As crianças continuaram girando. Como são crianças, devem ter achado que eu estava me divertindo ali… de cabeça para baixo (risos). Para minha sorte, os adultos perceberam e me acudiram. Acho que os tendões dos meus joelhos não resistiriam a mais algumas voltas…
Eu sei que depois disto, as crianças pularam no meu pescoço e queriam brincar mais. Foi o máximo! Emocionei-me muito com todas aquelas crianças no meu pescoço, me puxando de um lado para o outro. Um momento mágico. De muito carinho. Pura alegria. Calorosa recepção. 🙂