Problemas na fronteira do Zimbabue
Depois das Cataratas Vitória, passei alguns dias em Harare, capital do Zimbabue, na casa da família de Jabulani, o guia e chef de cozinha do truck. De lá, tomei um ônibus local para Lusaka, capital de Zâmbia, para encontrar Priscilla e irmos juntas para Zanzibar.
Foi um dia inteiro de viagem, quase dez horas comendo poeira, a bordo de um ônibus de linha, eu diria, sendo eufemista, não muito bem conservado. Bateu uma saudade do truck… 🙂 Eu era a única turista do ônibus. Nesse trajeto, deu para sentir um pouco a África real: a pobreza e os contrastes do continente.
Na fronteira do Zimbabue, o policial da imigração criou embaraços à minha saída do país. Disse que eu não tinha visto de entrada, que eu teria de pagar 30 dólares pelo visto. Eu disse que não iria pagar de novo, porque já havia pago. Mostrei-lhe o selo de entrada, mas ele disse que não era válido. Falei para ele que ao afirmar isto estava me chamando de falsificadora. Os ânimos esquentaram. A fila dos passageiros do meu ônibus para entrada em Zâmbia estava no final e eu, ainda, não tinha o meu selo de saída do Zimbabue. Eu falei que não podia perder o ônibus. O policial continuou fazendo jogo duro, pegou o meu passaporte e saiu da sua mesa. Nessa hora, o tom da minha voz já estava elevado. Pedi-lhe para devolver meu passaporte. Devolveu. Depois, pegou-o de novo da minha mão e me dirigiu para uma sala. Eu falei que não iria pagar.
Com o passar da hora, com receio de perder o ônibus e ficar sozinha na fronteira, concordei em pagar de novo, mas disse que queria o recibo. Depois disso, mais uns 40 minutos sem resposta, esperando uma posição. Não gosto de acusações generalizadas, mas creio que ele estava querendo dinheiro… Propina é uma prática comum nas fronteiras. Eu estava sozinha, única turista, mulher… No final, talvez por perceber que não haveria negociação, o policial deixou-me ir sem pagar nada. Mas foi sacana. Não carimbou a minha saída do Zimbabue. Por sorte, eu não tive problemas para entrar em Zâmbia.
O lado bom da história: os outros passageiros do ônibus foram solidários e ficaram do meu lado! Esperaram-me por mais de uma hora e, ainda sim, me receberam com sorrisos quando entrei no ônibus. Pedi desculpas pelo atraso. Perguntaram se eu paguei alguma coisa. Eu disse que não. E eles morreram de rir. Gostaram. Acho que devem ter se divertido com a brasileira, sem juízo (risos), que resolveu enfrentar o policial. Acho que não é muito comum uma mulher falar em alto tom de voz com um homem por aqui e, muito menos, com um chapéu Panamá na cabeça! (risos) Além disso, creio que também gostaram da minha reação, porque, na minha pequena experiência, percebi que os policiais costumam ser truculentos inclusive com os africanos.
No final, tudo ficou bem e foi divertido. Ainda bem, né!!!